Não há aqui nada!!
O que se passa?
Ana Sancho
Constituição do Grupo:
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Afonso Quaresma; Nº:1
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Gonçalo Rosa;Nº:10
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Tiago Silva; Nº:28
CAPÍTULO VI: PACÍFICO
O LUGAR DO MAR - Gonçalo fez
Aproveitando o local geográfico em que se encontra, Gonçalo Cadilhe pretende abstrair-se por uns dias do seu cansativo projeto (que, mais recentemente o obrigou a atravessar parte da Patagónia e a região do Estreito de Magalhães), e viaja agora para Valparaíso, Chile (por onde Magalhães também passou).
Durante a estadia na cidade, o escritor decide visitar o lar de Pablo Neruda, famoso poeta do século XX, natural daquele país. O fato da casa-museu de Neruda possuir vários "brinquedos", que se encontram organizados numa ampla e variada coleção (bússolas, quadros, máquinas de escrever, mapas antigos, entre outros), faz com que Cadilhe não se consiga esquecer de Fernão de Magalhães por aqueles breves momentos de descontração.
Previamente ao estabelecimento dos alicerces do que agora é a Argentina e o Chile, existia já um vasto território denominado "Terras Magalhânicas" (localizadas para lá do fim do mundo conhecido na Era dos Descobrimentos). Após Magalhães ter tocado nestas, as mesmas foram abandonadas durante um longo período de tempo, o qual durou até ao final do século XIX: aí, surgiu a iminente necessidade de assegurar a soberania desta extensa área por parte das duas nações sul-americanas. Contudo, os seus habitantes é que não se revêem no modo de ser da sua pátria: o poder central, lá presente, rebaixa-os - diz, em Punta Arenas e por outras palavras, o professor universitário Danilo Tobar, que fala pela população quando afirma que o melhor seria criar uma espécie de estatuto autónomo transfronteiriço, naquele lugar.
Gonçalo Cadilhe lembra-se agora do um pequeno monumento que encontrou à entrada do Estreito, uma nau que apontava para a tal passagem. Com isso, também recorda a placa que esclarece o sentido daquela aparentemente insignificante construção: o início da descoberta do Chile foi feito ali pelo Sul (através das Terras Magalhânicas), por parte do capitão da expedição. Assim, esta acaba por chamar a atenção para a importância daqueles territórios na fundação do Chile, atuando praticamente como um protesto contra o isolamento e a falta de apoios a que as regiões Magalhânicas têm sido sujeitas.
Nos séculos posteriores à viagem do navegador português, o Estreito que ele próprio batizou de "Canal de Todos os Santos" (adquirindo poucos anos depois o nome que mantém até Hoje), manteve o seu isolamento e adquiriu uma fama conotada negativamente: a dificuldade e a imprevisibilidade de efetuar a sua travessia fez com que, futuramente, muito poucos navegadores a conseguissem executar. Depois, a rota do Estreito não será mais lembrada pelos europeus: nunca ninguém o irá tentar navegar novamente.
Vendo bem, a descoberta daquela passagem que liga dois oceanos, levou a que a expedição de Magalhães tivesse de passar um Inverno na Patagónia, desfizesse uma nau e perdesse algumas vidas. Gonçalo Cadilhe elogia Magalhães pelo sua perseverança, que permitiu o estabelecimento de um dos maiores feitos de navegação de sempre.
O escritor declara, na semana antes da visita da casa de Neruda, ter viajado com o capitão Manuel Veja Moro a bordo de um cargueiro chamado "Navimag", que permite a ligação entre Punta Arenas e Puerto Montt. A navegação pelas águas das terras magalhânicas presentes nos mapas do poeta Chileno durou quatro dias e deu ocasião a que Cadilhe ficasse a saber que, em sete anos de travessias do Estreito, o piloto que o guia encontrou bom tempo no lado do Pacífico apenas uma única vez. Este testemunho de Moro contrasta com o de Magalhães: quando chegou à desembocadura do maior oceano do planeta, apanhou condições marítimas calmas, o que o levou a dar-lhe o nome que subsiste até ao presente: Pacífico, como já foi dito.
Após a já falada travessia, a expedição navegou pela costa chilena acima, até a uma altura mais ou menos correspondente a Valparaíso (onde o escritor se encontra). Aí , virou a proa a Oeste (afastando-se da América do Sul), impulsionando-se para a travessia de um oceano imenso e desconhecido, até a altura.
NA MICRONÉSIA - Gonçalo Fez
Gonçalo Cadilhe recorda-se de um dos momentos mais agradáveis da sua vida: a travessia do Pacífico, que durou algumas semanas do Outono de 2003. Esta foi feita num grande cargueiro de nome "Tasman Adventurer", matriculado em St.Johns ( uma pequena ilha na costa atlântica do Canadá).
Nessa viagem de solidão entre uma atmosfera cem porcento industrial, a leitura era uma das poucas coisas que o fazia esquecer de todas as centenas de milhares de toneladas de mecânica, ferro, mercadorias, óleo e carburante, que partilhavam o mesmo ambiente que ele, em pleno mar. O escritor lia assim um livro do neozelandês John Chambers, sobre a história do mais extenso oceano terrestre. Surpreendentemente, foi Chambers que chamou a atenção de Cadilhe para Magalhães que, naquele livro, aparecia elogiado como sendo um dos maiores navegadores de sempre. E, resultado deste acontecimento, o projeto que levou ao livro que estamos a tratar, surgiu.
O autor de "Nos Passos de Magalhães" encontra-se agora na Micronésia que, para o explorador português, era assim: "Naveguem desde o Chile três meses e dez dias, depois virem à direita."
Três meses e dez dias é muito tempo: muitos membros da expedição morreram durante esse tempo, vítimas da fome, da sede, do escorbuto. Na verdade, Fernão de Magalhães não esperava enfrentar um oceano tão vasto. No entanto, mesmo que conhecesse a sua real extensão, o navegador teria, provavelmente, seguido em frente na mesma: era imprescindível regressar a Espanha em glória, com o cumprimento imaculado da sua missão (alcançar as Molucas pelo mar do Oeste e provar que se encontram no lado espanhol do tratado de Tordesilhas). É de salientar que Magalhães já encontrava a sua reputação na corte castelhana bastante fragilizada pelo motim de Cartagena na Patagónia e pela deserção de Gomes no Estreito.
Durante o Inverno na "terra dos patagões", o navegador acabou com a vida dos principais oficiais da armada, todos eles castelhanos e envolvidos no tão afamado motim. O capitão Cartagena, provável filho do arcebispo de Burgos (homem com grande influência na corte castelhana e responsável pelas questões ultramarinas do Reino), encontra-se entre os executados.
Numa altura posterior, aquando da travessia do Estreito, uma das naus abandona a expedição e volta ao local de onde saiu. Estêvão Gomes, compatriota de Magalhães e piloto da nau "San Antonio", trai o navegador: quando este avança para fazer o reconhecimento da costa sul do Estreito, convence os marinheiros da sua embarcação a desertar. A inveja nua e crua poderá ter motivado esta atitude.
O capitão português está certo de que os que abandonaram a expedição não irão contar a verdade sobre a sucessão de acontecimentos que os fez abandonar a viagem em que seguiam. Deturparão, talvez, a viabilidade do Estreito, ou até mesmo inventarão a sua versão relativa ao motim na Patagónia. O esperado acontece: a 6 de Maio de 1521, seis meses após a deserção, a "San Antonio" regressa a Sevilha, calunia e queixa-se de Magalhães. O arcebispo de Burgos não gosta do que ouve e chegará a colocar a esposa e o filho bebé de Magalhães sob prisão domiciliária.
É de salientar que a nau onde os desertores voltaram à Pátria era a que abastecia, com a maior parte dos mantimentos, a expedição. O seu abandono acaba por deixar quem se encontra num dos três navios sobreviventes numa situação frágil. Todavia, uma estimativa aponta para cerca de duas semanas, no máximo, para completar a travessia ao Pacífico, apesar de ninguém saber as suas verdadeiras dimensões. Se assim for, existe comida suficiente para combater a fome, até ao desembarque. O que Magalhães não contava era ter-se enganado na verdadeira dimensão da Terra: ela é um terço maior do que o que ele imagina. Com esta constatação, todo o seu prognóstico se revelou inválido.
A rota escolhida pelo navegador para atravessar o maior oceano do planeta era ideal no que toca a correntes, ventos e latitude. No entanto, passava ao lado de muitas ilhas, ideais ao desembarque e ao abastecimento das naus. A tripulação acaba por se ver obrigada a comer o couro das amarras, serradura e ratos. Isto levará à morte de cerca de um décimo dos duzentos marinheiros que a constituíam, por questões de subnutrição e escorbuto: marinheiros estes que nunca mais voltariam a pôr os pés em terra firme.
No dia 6 de Março de 1521, as naus avistam terra. Magalhães e a sua expedição, apesar de ainda não terem atravessado por completo todo o Pacífico, tornam concreta a realização da maior viagem marítima já realizada (sensivelmente de um ano e nove meses, até ao momento). Todos, exaustos física e emocionalmente, ancoram num grupo de ilhas habitadas, a cerca de 13º a norte do Equador. É descoberto para a Europa a existência do arquipélago das Marianas, na Micronésia.
CHOQUE CULTURAL EM GUAM - Gonçalo fez
O escritor chega a Guam com a ideia de que, se não fosse no âmbito da vida de Magalhães, nunca visitaria tal sítio. Gonçalo Cadilhe dá entrada naquele ilha pertencente ao arquipélago das Marianas a bordo de um avião. Mais tarde, aluga um carro no aeroporto, o qual o irá levar até a um motel, onde ficará hospedado. Durante a condução, são vistas várias coisas: as ruas sem peões e apenas com automobilistas, arranha-céus, hotéis de cinco estrelas e o maior centro K-Mart do mundo, para além de uma quantidade quase infinita de diferentes sucursais de grandes cadeias alimentares mundiais. Mal chega ao lugar onde irá permanecer enquanto a sua estadia em Guam se desenrola, o escritor senta-se na cama, vítima de uma ausência de estímulos, provocado pelo calor e pelo fuso horário.
Ao desembarcar no país onde agora se encontra, Cadilhe vê-se no meio de uma excursão de japoneses e acaba por dar de caras com uma espécie de "luna park" do mar, que vai contra ao que o escritor pensava que aquilo iria ser: um paraíso ancestral ligeiramente moderno, protegido pelo Pacífico.
Obedientemente, a excursão segue o programa previsto, que culmina na visita a um monumento erguido a Magalhães. Aí, o escritor reencontra-a. A baía de Umatac, onde está visível aos olhos de todos uma bonita homenagem ao navegador português, assume uma enorme importância histórica: foi nesse local que os Chamorros (nativos de Guam) se apresentaram aos europeus, e vice-versa.
Pigaffeta (o cronista oficial da expedição) e Francisco Albo (o piloto grego) falam ambos de uma multidão de nativos que saem da baía de Umatac, em direção às três naus comandadas por Magalhães, navegando. Estes deslocavam-se em pirogas leves e muito rápidas, com um estabilizador e uma vela triangular. As Marianas são assim batizadas como as "Ilhas das Velas Latinas". Os Chamorros acabam por subir a bordo sem qualquer medo, e oferecem alimentos frescos aos marinheiros. Seguidamente, iniciam a ingénua recolha de tudo o que lhes atrai a atenção, como o bote da "Trinidad", a nau do capitão-general. Aquele pedaço de terra cercado por mar irá ficar assim conhecido, como a "Ilha dos Ladrões", nos seguintes 150 anos à sua descoberta.
Felizmente, o navegador português e o resto da tripulação conseguiram expulsar das embarcações os habitantes locais. No dia a seguir, o líder da expedição, por não ter gostado minimamente do atrevimento dos nativos, envia um grupo de homens para castigar os insolentes, bem como para recuperar as suas posses roubadas.
Desta punição resultaram muitas mortes (sobretudo de Chamorros). Também os ilhéus de Guam foram destruídos e os seus bens alimentares roubados.
Um dia mais tarde, os "índios" regressam às naus, oferecendo alimentos, confraternizado, trocando objectos de pouco valor. Em adição, os marinheiros são informados através de gestos da rota em direção à próxima ilha habitada, chamada "Selan".
No quarto dia de permanência nas Marianas, todos estão prontos para partir. Na altura da despedida, os nativos acompanham as naus, nas suas pirogas: num minuto, oferecem peixe e fruta, noutro apedrejam os visitantes. Ainda choram e rogam pragas, enquanto que algumas mulheres arrancam os cabelos, gritando desesperadas. Cadilhe admite não entender a sucessão de acontecimentos decorridos neste importante capítulo da História: a primeira passagem europeia em Guam.
O escritor volta ao motel, esperando o seu próximo voo para "Selan" que, geograficamente, equivale às actuais Filipinas.
A TERRA É REDONDA - Tiago fez, Gonçalo corrigiu e acrescentou
O navegador português acordara com Carlos V que, a partir da sexta ilha descoberta ao serviço de Espanha, poderia escolher uma delas e ter direito à quinzena parte de todos os proveitos, juros de renda e direitos de lá possíveis retirar.
Ironicamente, Fernão de Magalhães descobre um arquipélago com 7000 ilhas, que o próprio baptizou como "Ilhas de São Lázaro": a poucos dias da Páscoa, a tripulação da expedição, assim como o Lázaro do Novo Testamento, ressuscitam de uma morte quase a acontecer. Esta mesma é a primeira travessia (de sempre) ao Oceano Pacifíco. Será igualmente nesse arquipélago que Magalhães ficará conhecido por ter feito a constatação da esfericidade do globo. Pouco tempo depois, o nome atribuído pelo capitão-general da Armada das Molucas foi substituído pelo nome ainda atual -"Filipinas"- por ação do monarca espanhol Filipe II.
A 16 de Março de 1521, a expedição chega à costa oriental de Samar, uma das imensas ilhas do arquipélago. Sem condições propícia ao desembarque, continua a navegar para Sul, até que chega à ilha de Homonhon. Aí, durante uns dias, os marinheiros põem os pés na terra e recuperam forças. Nove dias depois, fazem-se novamente ao mar. Após três noites em viagem, chegam a Limasawa, "outra Ilha de São Lázaro", como Magalhães provavelmente dissera.
Já nas Filipinas, mais propriamente em Cebu, Gonçalo Cadilhe prepara-se para se dirigir a Limasawa. Na sua viagem rumo a esta terra, o escritor é surpreendido pela facilidade, segurança e tranquilidade da navegação inter-ilhas, quando viaja de "ferry" até Leyte. Um autocarro, um "jeepney" (uma espécie de carro para transporte de bagagens adaptado), um riquexó artesanal (veículo de duas rodas puxado por uma pessoa) e uma insegura piroga ajudam-lhe a chegar à ilhota pretendida. O autor de "Nos Passos de Magalhães" nota as grandes desigualdades populacionais naquele país.
Magalhães e a sua tripulação, foram bem recebidos em Limasawa, com os nativos (que se aproximavam em pirogas) que se dirigiam aos europeus através da força das palavras. Inacreditavelmente, os europeus entenderam o que os locais iam mencionando. A partir daí, tentara também eles expressar-se na língua daquela região. Na base deste mútuo entendimento verbal está Enrique, o escravo oriental do capitão-general, que provavelmente teria nascido nas Filipinas e sido raptado por navegadores em miúdo, para se tornar escravo em Malaca. É deste modo que o cativo surpreende tudo e todos.
Ao chegar à ilha onde tudo isto se passou, o escritor garante ser o local onde mais se emocionou na sua odisseia à volta do mundo. Cadilhe revela também a beleza externa e extrema da mesma.
O PRIMEIRO DIA - Tiago fez, Gonçalo corrigiu e acrescentou
Foi em Limasawa que se deu a primeira cerimónia diplomática entre a Europa e o Extremo-Oriente pelo caminho do Ocidente. A cerimónia respeitou as diferenças culturais e a soberania de cada um dos povos envolvidos nesta: numa mão temos um ritual nativo que, apesar de não ter agradado minimamente aos europeus, é executado de uma forma convicta; noutra mão temos um ritual europeu que os nativos tiveram de cumprir, mesmo sem conhecermos a sua opinião em relação ao mesmo.
Os habitantes da ilha fazem um pacto de sangue, o qual envolve os dois representantes máximos de cada uma das partes implicadas. Por conseguinte, Magalhães e o rei Colambu fazem um leve corte no peito, vertem um pouco do seu sangue para uma taça com vinho de palma, misturam tudo e bebem.
A cerimónia da Armada das Molucas tem o nome de santa missa católica, apostólica, romana. Com um carácter importantíssimo, a missa de Páscoa celebra a Ressurreição de Cristo e, naquela altura, a ressurreição de todos os que viajavam com o navegador português, após terem concluído a travessia do Pacífico. No ilhéu, o capitão general ergue uma cruz e alça bandeiras. Os canhões estrondeiam, simulam-se torneios de espadas, leitões são assado. Rapidamente, o cristianismo passa a fazer parte das Filipinas. Hoje, neste país, Magalhães é amado por alguns filipinos (introduziu o catolicismo naquelas ilhas) , odiado por outros (chegou à ilha e apoderou-se de tudo, sem dar a mínima justificação a ninguém).
Cadilhe movimenta-se em direção a uma réplica da cruz europeia erguida numa colina, no dia 31 de Maio de 1521. Depois de algum esforço na subida desta elevação, a paisagem vista daquela altura domina por completo o escritor. De ali de cima, é possível ver uma mão-cheia do que parecem ser uma espécie de cabanas reunidas junto ao "santuário da primeira missa" (local no ilhéu com estátuas de barro e quadros relativos ao desembarque da Armada das Molucas), de nome "barangay" Magallanes. Tudo o que vive ali mostra ser tremendamente simples, primitivo, sem nenhuns luxos.
Sentado na colina da cruz, o escritor relembra um engraçado episódio. Em Limasawa, Pigafetta (cronista e embaixador da Santa Sé na expedição), por ser o elemento mais dispensável, é seleccionado para representar o navegador português num jantar organizado pelo rei Colambu no "barangay", numa Sexta-Feira Santa. Sentindo-se obrigado a desempenhar eficazmente o seu papel de embaixador, come um prata com porco, feito em sua honra. Este homem fica com a consciência pesada e, quando volta à Europa como sendo um dos poucos sobreviventes da expedição, vê que o calendário de bordo não coincide com o calendário europeu: falta um dia. A conclusão é surreal: foi castigado por Deus por ter comido aquela carne, tirando-lhe um dia de vida. Na verdade a explicação do sucedido é simples: viajando para Oeste, ao completar 360º passa um dia. Os que iam na Armada das Molucas não fizeram este acerto nos seus diários.
CONTRARIAR O DESTINO EM CEBU-Afonso fez
Quando a expedição chega às Filipinas, Magalhães compreende que, onde quer que se situem as Molucas, já pertencem a território Português. Talvez tenha sido esse o motivo para Magalhães procurar a morte em Mactan para não sofrer a humilhação de anunciar ao seu Imperador que as Molucas não pertenciam a Espanha como supunha.
Sendo assim, não foi Magalhães que foi impedido pelo destino de regressar, ele é que não quis.
Mactan, onde Magalhães teria procurado a morte, é uma pequena ilha ao lado de Cebu, servida por duas pontes modernas. Mas quando Magalhães desembarca em Cebu, Mactan é um mundo à parte. O rei Colambu, prontifica-se a acompanhar a Armada das Molucas a Cebu e, ainda ao largo da cidade, disparam várias salvas de canhões que põem os seus habitantes em alvoroço.
Magalhães não tenciona assaltar Cebu, mas sim convertê-la ao Cristianismo. O rajá, a sua esposa e muitos notáveis de Cebu decidem converter-se.
Ergueu-se uma cruz no centro da cidade, a rainha e a princesa recebem os nomes Joana e Catalina e o rajá Humabon passa a chamar-se rei Carlos. 800 voluntários abraçam também a religião. Para consolidar este processo, Magalhães consegue curar um moribundo.
Nos dias que se seguem ao domingo do baptismo de Humabon, quase toda a população se converte ao Cristianismo por vontade própria.
A conversão voluntária dos filipinos parece ter-se tornado no ponto alto da expedição.
Magalhães sabe que, onde quer que as Molucas se situem, situam-se em território português. Desde há cinco graus que navega de novo em águas portuguesas. A sua honra é nada.
Uma cláusula no tratado de Tordesilhas, diz que o direito de ocupação pode prevalecer sobre o direito de localização, em territórios previamente desconhecidos, independentemente das suas coordenadas.
Umas filipinas cristianizadas e ocupadas poderiam justificar a expedição aos olhos do Imperador.
Não será difícil aproveitar todas estas oportunidades e salvar pelo menos a expedição.
Após alguns príncipes vassalos de Humabon se recusarem a obedecer-lhe, Magalhães manda recado: quem não aceitar a chefia de Humabon será castigado. Um certo Lapu-Lapu, responde ao recado: que Magalhães o venha então castigar a Mactan.
MORTE DE MAGALHÃES-Afonso fez
Ninguém sabe realmente com era Magalhães por dentro. Sabemos o que fez na vida, mas pouco sabemos das razões por que o fez. Nem mesmo Pigafetta, o fiel admirador do capitão-general, conheceu o seu interior.
A forma como Magalhães agia torna indecifrável a acumulação de erros que conduz ao massacre de Mactan.
Lapu-Lapu, vassalo de Carlos Humabon, recusa-se a segui-lo na vassalagem que o seu rei aceita prestar ao imperador de Espanha e recusa também adoptar a religião trazida pelos espanhóis. Para Magalhães esta é uma afronta intolerável.
Queria Magalhães provar definitivamente a força do cristianismo e da cultura europeia?
Achava-se ele invulnerável após tantos sucessos na parte desconhecida da Terra?
Estamos em Mactan, quase no Equador, e uma luz difusa cai pesadamente no palco da última batalha de Magalhães: uma praia pequena, em forma de baía fechada, forma ideal para uma emboscada.
Procuro uma sombra. Encontro uma. Na verdade são três, dado serem três os monumentos. Uma espécie de obelisco em estilo neoclássico, erguido em meados do século XIX durante a dominação colonial espanhola; é duro e anguloso impondo assim ordem e sujeição. Uma estátua em estilo popular que recorda Magalhães, o capitão europeu; é simples e imediata celebrando a alegria e a liberdade. E a estrutura em estilo palheiros da praia de Mira que contém um terceiro ponto de atracção turística: uma cena pintada nas paredes, demagógica e comunicadora que parece querer conciliar a globalização e o regionalismo. Na pintura observa-se o inicio da batalha de Mactan, uma solução de compromisso entra Oriente e Ocidente.
Não havia outro resultado possível além do massacre, pois os europeus eram 50, estavam desprotegidos e em inferioridade numérica. Pelas descrições dos sobreviventes, a batalha deu-se em terra. Pigafetta descreve um Magalhães heróico, que quando percebe que a batalha está perdida, dá ordem de retirada, mas fica na frente de batalha a proteger a retirada. Atitude inútil e voluntariamente derradeira. O corpo nunca será recuperado.
Faltam horas até o sol descer para o crepúsculo. É tempo de voltar a casa.
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